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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Moção de Repúdio à revisão da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) pelo Ministério da Saúde

A Frente Brasil Popular, a Frente de Esquerda Socialista, a Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde/Fórum de Saúde do Rio de Janeiro e a Frente Povo Sem Medo, enquanto movimentos de organização da classe trabalhadora, manifestam, de forma veemente, o repúdio ao processo de revisão da Política Nacional de Atenção Básica à Saúde (PNAB) proposto pelo Ministério da Saúde (MS) na atual conjuntura de desmonte de direitos sociais, que se agrava com a aprovação da PEC 241. Repudiamos o método utilizado para a revisão da PNAB, que não vem sendo realizada em fóruns ampliados de participação popular ou pautada nas Conferências de Saúde, mas a portas fechadas, com a participação majoritária de gestores em detrimento da participação dos movimentos sociais e entidades representantes dos interesses dos trabalhadores da Atenção Básica. Negamos o argumento apresentado pelo MS para a revisão da PNAB, que diz se basear na “melhoria da qualidade da atenção e no incremento de resolutividade”, justificativa que vem escamotear a aceleração do processo de aprofundamento da precarização do trabalho, de desmonte dos direitos sociais a partir da diminuição drástica de financiamento das políticas públicas e de privatização do Sistema Único de Saúde.
No período de 18 a 20 de outubro deste ano, o MS, através da Secretaria de Atenção à Saúde e do seu Departamento de Atenção Básica à Saúde (DAB), realizou o VII Fórum Nacional de Gestão da Atenção Básica, em um hotel a portas fechadas em Brasília e sem qualquer divulgação, ciência, participação, e nem mesmo convite, às instituições e entidades representantes das categorias profissionais que atuam na Atenção Básica. Segundo o MS, o evento teve como objetivos “Estabelecer um processo de consulta qualificada ao conjunto de atores que atuam na construção da Atenção Básica sobre a revisão da PNAB; Discutir sugestões, propostas de alteração e aprimoramentos para a PNAB; Construir um documento com consensos estabelecidos no processo de discussão do Fórum como subsídio para as discussões de revisão da PNAB na Comissão Intergestores Tripartite (CIT)”. No entanto, foram convidados para participação no evento somente os representantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e outros atores que não se constituem entidades representativas dos interesses dos trabalhadores da Atenção Básica. No documento “Síntese das discussões” do evento encontram-se graves propostas que expressam o fortalecimento de uma Política de Atenção Básica focalizada e a incorporação de instrumentos e processos de avaliação e gestão mercantis que absolutamente não coadunam com o fortalecimento da ABS enquanto orientadora de um Sistema de Saúde universal, participativo, integral e público. Algumas das propostas para a PNAB produzidas no referido evento são a flexibilização da composição das equipes mínimas da Estratégia de Saúde da Família, diferenciação dos regimes de trabalho, carga horária e vínculo dos trabalhadores da Atenção Básica, extinção de categorias profissionais como ACS e ACE e gestão do trabalho por competências.
As propostas aprofundam a flexibilização do trabalho, a precarização dos vínculos empregatícios dos trabalhadores que compõem a Estratégia de Saúde da Família; a defesa de um modelo de atenção médico-centrado, orientado pela lógica curativista, pautada em queixa-conduta. No que se refere aos processos de formação, não houve qualquer menção à necessidade de investimento em uma política de educação profissional para os trabalhadores de nível médio e fundamental da Atenção Básica como os ACS e ACE, destacando-se a ênfase nos processos formativos instrumentais e pragmáticos para o serviço e não para a formação humana do trabalhador e para o mundo do trabalho. Há o fomento do modelo de gestão pautado em uma lógica gerencialista e mercantil de minimização de recursos, em que se prioriza a produção de indicadores sobre os procedimentos médico ou biomédico-centrados em detrimento das necessidades de saúde dos usuários e trabalhadores do SUS e dos processos de promoção da saúde.
Ademais, o MS em conjunto com CONASS e CONASEMS permanecem desqualificando e negando a trajetória histórica, a luta, o lugar e as particularidades do trabalho no SUS dos ACS e ACE. Como se não bastasse a publicação das portarias 958 e 959 em maio deste ano, onde foi proposta a substituição de ACS por técnicos de enfermagem (portarias que foram revogadas devido a forte atuação, mobilização e resistência dos trabalhadores e diversas instituições de ensino e pesquisa da área de Saúde Coletiva), mais uma vez se apresenta a tentativa de extinção das especificidades e da potencialidade do trabalho comunitário, da participação social, da educação popular e dos processos de promoção da saúde na Estratégia de Saúde da Família.
Assim, o processo de revisão da PNAB protagonizado pelo MS na presente conjuntura política econômica e social do Brasil contribui, juntamente com a PEC 241, para o esvaziamento dos espaços de participação social, para o desmonte de caras conquistas sociais dos movimentos dos trabalhadores e enfatiza a construção de uma política de Atenção Básica à Saúde pautada na focalização, na flexibilização e precarização do trabalho.  

Resistiremos! Os trabalhadores e os direitos sociais não pagarão por medidas de ajuste fiscal! A Política Nacional de Atenção Básica não é uma pauta exclusiva de gestores, mas é direito social, política pública e pertence aos trabalhadores e trabalhadoras! Saúde não é mercadoria!

Frente Brasil Popular
Frente de Esquerda Socialista
Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde/Fórum de Saúde do Rio de Janeiro
Frente Povo Sem Medo










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